O tempo no
relógio vai passando, 5 minutos demoram 5 horas. Está chegando aquela hora
esperada. São 16:55h da tarde nesse momento, ele olha pro relógio, já até
fechou o e-mail, não responde mais nada hoje. Sexta feira, animação nas
alturas, hoje tem balada, hoje ele vai pro camarote VIP.
16:56h. O
ser humano começa a suar frio. E se meu chefe chegar e me pedir um relatório?
Porra, fazer hora extra de novo é de lascar. Por enquanto nem sinal dele. Os
colegas se entreolham, olhares fundos de cansaço, mas já contendo algum rastro
de alegria, como presidiários prestes a serem soltos. Se sentiam presos todos
os dias ali, quanta energia, quanta jovialidade gasta com reuniões e as mais
diversas frivolidades. Mas é a regra da selva, as contas não se pagam sozinhas
e camarão que dorme a onda leva.
16:57h. Já
bate o desespero total. Já tem gente se escondendo no banheiro. Começa a tocar
a música tema do missão impossível na cabeça da pessoa, se sente como um
jogador machucado, caído na lateral do campo implorando pro árbitro acabar o
jogo. Começa a jogar uma bolinha pro alto pra passar o tempo, o celular já não
tem mais a menor graça. Alguém tem a
brilhante ideia de fazer um balanço geral da semana, sem sucesso.
16:58h.
Sério que não vai acabar o dia hoje? O estresse já nas alturas. Alguém
pergunta: “E o Bahia hoje hein, será que ganha?” A essas horas o cara quer que
o Bahia se exploda, por mais que seja seu time de coração e tal. Já começam a sair
orações para os mais variados tipos de
divindades, tem gente apelando a tudo o que é tipo de crença, tamanho é o
desespero do momento.
16:59h.
Ouvem se os passos do chefe, a marcha imperial do Darth Vader toca na mente. Só
falta esse ser vir com relatório agora. Ele vai direto para o banheiro. UFA! Já
tem gente saindo pela tangente. Quem estava no banheiro foi automaticamente
repelido pela presença do chefe no recinto. Coloca tudo na mochila de qualquer
jeito, eu arrumo isso depois. Já pega a chave do carro. A fila já se forma em
frente ao relógio de ponto. O chefe sai do banheiro, parece procurar alguém. “Merda,
ele tá vindo pra cá”. Mas ele apenas acena e deseja um bom final de semana a
todos.
17:00h.
Acabou. Começa a vir em sua cabeça o Galvão Bueno gritando: “É TETRAAA!! É
TETRAAA!!” Tchau pra todo lado, é o fim do expediente. A música na sua cabeça
já muda: “Bota o copo pro alto, vamos beber!” A pessoa se metamorfoseia
imediatamente no Ronaldinho Gaúcho. Hoje não tem garçom pobre!!
São 20:00h agora.
Está pronto pra ir pro show. Pega o ingresso, vai chique hoje, pegou até um
blazer pra arrasar com as mulheres. Afinal, é camarote né? Tem que impressionar. Pega o carro do pai,
que é mais chique, e já passa pra buscar os caras. “É hoje, é hoje, é hoje!”
4:00h da
manhã de sábado. O show foi ótimo, mas pareceu que voou. Hora de voltar pra
casa. Tem manchas de batom ao redor da camiseta dele, foi inventar de ir de
branco pra que? Blazer na mão, os amigos apoiados nos ombros, um deles
completamente apagado. Hoje foi foda!
Pois bem,
foi foda. Mas passou. Inclusive como passaram as próximas 48 horas depois
disso. Eis que de repente...
6:30h,
manhã de segunda. O despertador toca. Abre os olhos com muita vagareza, a
pálpebra pesa mais que os halteres da academia. Lá vamos nós pra mais uma
semana. Café da manhã bem modesto, leite e pão. Dá raiva só de olhar para
aquela camisa branca pendurada. É o fim do sonho de playboy que ele passou por
48 horas.
E que
comece mais uma semana da nossa prisão de todos os dias. A rotina. A vida
medíocre de um pagador de contas simples. Mas algo nos dá força. A certeza que
logo será sexta-feira de novo.