sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Vida e obra de um fim de semana


O tempo no relógio vai passando, 5 minutos demoram 5 horas. Está chegando aquela hora esperada. São 16:55h da tarde nesse momento, ele olha pro relógio, já até fechou o e-mail, não responde mais nada hoje. Sexta feira, animação nas alturas, hoje tem balada, hoje ele vai pro camarote VIP.

16:56h. O ser humano começa a suar frio. E se meu chefe chegar e me pedir um relatório? Porra, fazer hora extra de novo é de lascar. Por enquanto nem sinal dele. Os colegas se entreolham, olhares fundos de cansaço, mas já contendo algum rastro de alegria, como presidiários prestes a serem soltos. Se sentiam presos todos os dias ali, quanta energia, quanta jovialidade gasta com reuniões e as mais diversas frivolidades. Mas é a regra da selva, as contas não se pagam sozinhas e camarão que dorme a onda leva.

16:57h. Já bate o desespero total. Já tem gente se escondendo no banheiro. Começa a tocar a música tema do missão impossível na cabeça da pessoa, se sente como um jogador machucado, caído na lateral do campo implorando pro árbitro acabar o jogo. Começa a jogar uma bolinha pro alto pra passar o tempo, o celular já não tem mais a menor graça.  Alguém tem a brilhante ideia de fazer um balanço geral da semana, sem sucesso.

16:58h. Sério que não vai acabar o dia hoje? O estresse já nas alturas. Alguém pergunta: “E o Bahia hoje hein, será que ganha?” A essas horas o cara quer que o Bahia se exploda, por mais que seja seu time de coração e tal. Já começam a sair orações para os mais variados tipos de divindades, tem gente apelando a tudo o que é tipo de crença, tamanho é o desespero do momento.

16:59h. Ouvem se os passos do chefe, a marcha imperial do Darth Vader toca na mente. Só falta esse ser vir com relatório agora. Ele vai direto para o banheiro. UFA! Já tem gente saindo pela tangente. Quem estava no banheiro foi automaticamente repelido pela presença do chefe no recinto. Coloca tudo na mochila de qualquer jeito, eu arrumo isso depois. Já pega a chave do carro. A fila já se forma em frente ao relógio de ponto. O chefe sai do banheiro, parece procurar alguém. “Merda, ele tá vindo pra cá”. Mas ele apenas acena e deseja um bom final de semana a todos.

17:00h. Acabou. Começa a vir em sua cabeça o Galvão Bueno gritando: “É TETRAAA!! É TETRAAA!!” Tchau pra todo lado, é o fim do expediente. A música na sua cabeça já muda: “Bota o copo pro alto, vamos beber!” A pessoa se metamorfoseia imediatamente no Ronaldinho Gaúcho. Hoje não tem garçom pobre!!

São 20:00h agora. Está pronto pra ir pro show. Pega o ingresso, vai chique hoje, pegou até um blazer pra arrasar com as mulheres. Afinal, é camarote né? Tem que impressionar. Pega o carro do pai, que é mais chique, e já passa pra buscar os caras. “É hoje, é hoje, é hoje!”

4:00h da manhã de sábado. O show foi ótimo, mas pareceu que voou. Hora de voltar pra casa. Tem manchas de batom ao redor da camiseta dele, foi inventar de ir de branco pra que? Blazer na mão, os amigos apoiados nos ombros, um deles completamente apagado. Hoje foi foda!

Pois bem, foi foda. Mas passou. Inclusive como passaram as próximas 48 horas depois disso. Eis que de repente...

6:30h, manhã de segunda. O despertador toca. Abre os olhos com muita vagareza, a pálpebra pesa mais que os halteres da academia. Lá vamos nós pra mais uma semana. Café da manhã bem modesto, leite e pão. Dá raiva só de olhar para aquela camisa branca pendurada. É o fim do sonho de playboy que ele passou por 48 horas.

E que comece mais uma semana da nossa prisão de todos os dias. A rotina. A vida medíocre de um pagador de contas simples. Mas algo nos dá força. A certeza que logo será sexta-feira de novo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Vítima?


“Mas Gabriel, outro texto sobre esporte, você só sabe falar sobre isso, esporte é ópio do povo, mimimi...”

Sim, é outro texto de esporte. Enquanto a inspiração lírica não volta, falo do trivial.

Queria eu estar compondo um poema com vários lirismos, um poema parnasiano, romântico ou realista mas adivinha? A minha inspiração foi pro caralho junto com o resto da minha paciência com o mundo.

Então, sem mais delongas:

Queria falar aqui sobre Floyd Mayweather. Ex super campeão de boxe, ex dono de trocentos cinturões, milionário que só o caramba, e como todo milionário que não se preparou pra ser, ostenta mais que qualquer funkeiro brasileiro e é chato igual um militante político.

Pois bem, Mayweather resolveu falar de MMA recentemente. Boxe e MMA, apesar de semelhantes,  trazem grandes diferenças entre si. Muitos boxeadores não gostam de MMA (o próprio Mayweather, inclusive) e oferecem uma certa resistência ao esporte. Justo, ninguém é obrigado a gostar de nada.

Como qualquer ser vivo que não tenha total aversão ao esporte e leia uma ou outra notícia, nós sabemos  que o atual campeão dos penas do UFC, Conor McGregor, é um chato de galocha. Utiliza-se bastante do trash talk para promover suas lutas, inclusive desrespeitando os adversários. Só que, ao contrário de muitos que já vimos, esse prometeu e cumpriu. O cara derrotou  “só” o José Aldo em 13 segundos. Só isso.

Ai o Floyd vai lá e fala isso:

“- Eu não conheço direito esse McGregor, nunca o vi lutar. Ouvi seu nome de um dos boys aqui da companhia (...) Ele me contou sobre esse McGregor, me disse que ele provoca muito e as pessoas o adoram por isso, mas quando eu o fazia, diziam que sou arrogante e convencido. Tão tendenciosos! Como já disse, eu não sou nem um pouco racista, mas estou te dizendo: racismo ainda existe

Meu Deus Floyd! Não poderia estar mais errado... Explico logo o porque:

  1. Pra quem acompanha o esporte com mais afinco sabe que Conor McGregor não é unanimidade em lugar nenhum. Na  Irlanda, apesar de ele ser ídolo nacional, há muita gente que critica ele. Dá pra comparar com o Neymar aqui. Em determinados lugares (Leia-se:  Brasil) ele é simplesmente odiado (aqui a comparação cabe mais com o David Luiz talvez). Ou seja, dizer que “as pessoas o adoram” é meio que forçação de barra.
  2. “Mas quando eu o fazia, diziam que sou arrogante e convencido.” Porque ele é. Floyd vive ostentando, vai me dizer que isso não é coisa de gente convencida?
  3. “Eu não conheço direito esse McGregor, nunca o vi lutar.” Quem quiser vai no google e procura o vídeo em que o Mayweather dá piti porque uma senhora não conhecia ele
  4. Floyd Mayweather, pra quem não sabe, é nada mais, nada menos do que o atleta mais bem pago do mundo. 4.4 milhões de pay-per-view em sua última luta contra Manny Pacquiao, tendo movimentado mais de 400 milhões de dólares em uma única luta. O recorde máximo de pay-per-view na história do UFC foi de 1.6 milhões.

Eu não preciso nem me estender muito pra dizer que o Mr. Floyd viajou na batatinha legal né?

Detalhe que o estilo de boxe do Mayweather, esportivamente falando, é extremamente eficiente, porém não é lá muito atrativo. Basta ver que a sua luta contra Pacquiao rendeu muita discussão sobre o verdadeiro vencedor. E talvez esse seja o ponto onde McGregor chame mais atenção, pois além do trash talk, Conor é dono de um estilo de luta atrativo e que dá resultados que não deixam muita dúvida além do clássico “se”.

Eu nem vou me estender na questão de racismo. Todo mundo sabe que ele existe sim. Mas não é esse o problema aqui, tá provado lá em cima.

“Então porque raios o Mayweather tá reclamando?” Simples. Floyd é desesperadíssimo por atenção. É praticamente uma diva. Se alguém não viu qual foi a reação do mesmo quando uma senhora disse que não o conhecia (situação inclusive mencionada acima) vai entender tudo o que eu disse agora.

E que fique uma coisa bem clara: Não gosto nem de Mayweather, nem de McGregor. Assim como eu também não gosto do Ibrahimovic, pelo mesmo motivo. Porque eles são convencidos e bocudos. E eu detesto gente assim. Aliás, também não gosto de gente que se faz de vítima sem ser. Mais um motivo pra não gostar do Floyd também. E, talvez, o principal motivo para ter escrito esse texto.

É isso por hoje. Até o próximo texto!